Todo mundo tem fases na vida. Tem a fase do vou começar a academia, que dura três semanas, a fase cortei o cabelo radicalmente porque tô mudando, e, claro, aquela famosa fase do vou largar tudo e abrir um negócio de brigadeiro gourmet. Agora, se você acha que suas fases existenciais são intensas, é porque ainda não conheceu as fases do Picasso.
Primeiro veio a fase azul. E quando eu digo azul, não estou falando daquele azul-turquesa da parede da sua sala ou do céu de verão no feed do Instagram. Estou falando de um azul que beira a depressão clínica. Entre 1901 e 1904, Pablo Picasso mergulhou no monocromático mais melancólico da história da arte. As obras dessa época são praticamente um mural da tristeza: ladrões, meninas de rua, velhos doentes, prostitutas, mães abandonadas. Tudo isso retratado com aquele tom azulado que dá vontade de ouvir uma playlist de sofrência enquanto observa.
Picasso estava em Barcelona e Paris, com o bolso vazio e o coração partido, influenciado pela literatura catalã que clamava por justiça social e, claro, pela morte trágica do amigo Carlos Casagemas, que decidiu que a vida era pesada demais aos 21 anos. Resultado? Picasso largou a pintura acadêmica e começou a trilhar um caminho próprio, com referência a Degas, Toulouse-Lautrec e Courbet, mas sem economizar na melancolia. Dizem que azul representa solidão, abandono, morte e até um certo erotismo, porque nem o drama escapa de um toque picante.
Mas a vida, como sabemos, adora mudar o roteiro. Em 1904, Picasso conheceu Fernande Olivier, modelo, musa, paixão, e inaugurou a famosa fase rosa. Nada como um bom romance para mudar a paleta de cores. De repente, o azul depressivo deu lugar a tons mais suaves, circos, mulheres, figuras eróticas e até uma pitada de alegria. Picasso, agora instalado no Bateau-Lavoir em Montmartre, cercado de poetas, escritores e aquele clima boêmio que faz todo artista se achar o próximo revolucionário da arte.
Foi nessa época que ele pintou Menino com o Cachimbo, uma obra inspirada em dois amigos que eram fãs de Arthur Rimbaud, o poeta rebelde que ganhou do amante Paul Verlaine o poema Crimen Amoris, falando sobre uma seita de jovens coroando o mais bonito com rosas. Sim, naquela época as pessoas escreviam poemas e se coroavam com flores, e você achando que o máximo do romance era enviar um emoji de coração.
Depois veio Família de Saltimbancos, mais alegria, mais circo, mais vida. E, claro, o amor com Fernande, que durou sete anos e serviu de inspiração para o quadro que mudaria o rumo da arte: As Meninas de Avignon, o pontapé inicial do cubismo.
As fases azul e rosa não são só uma aula de arte. São um lembrete cruelmente honesto de que todo mundo passa pelos altos e baixos, até os gênios. E que, às vezes, depois de muito azul depressivo, a vida resolve ficar cor-de-rosa, mesmo que seja só por um tempo. Porque no fim, o que seria da arte, da vida e dos relacionamentos sem essa montanha-russa de cores, sentimentos e mudanças radicais de fase?
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