Você já parou para pensar que, para alguns artistas, um touro nunca é só um touro? Pois é, enquanto o resto de nós encara o pobre animal como bicho de fazenda, carne de churrasco ou personagem folclórico das touradas espanholas, Pablo Picasso fez do touro um verdadeiro terapeuta de divã, um protesto político, uma crise existencial e, por que não, um guidão de bicicleta.
Veja o caso da famosa Natureza morta com crânio de touro, frutas e jarro, pintada em 1939. Enquanto muita gente estava tentando sobreviver às dores da Guerra Civil Espanhola, Picasso decidiu eternizar o que sobrou: o crânio do touro, as frutas e o jarro. Basicamente, a cozinha espanhola virou cenário de luto e metáfora. E, para quem acha que arte é só quadro bonitinho na parede, fica o lembrete: até uma cabeça de boi pode carregar mais crítica social do que muito debate político por aí.
Mas Picasso não parou por aí. Em 1942, olhou para um guidão de bicicleta, um selim e pensou: por que não transformar isso numa cabeça de touro? O resultado? Todo mundo via a cabeça do bicho ali, e Picasso, com aquele sorriso de quem sabe que está sempre três passos à frente da humanidade, sugeriu: talvez um dia alguém jogue essa cabeça no lixo e outro alguém a transforme de volta em guidão. A arte, segundo ele, é uma grande reciclagem filosófica com pitadas de ironia e boas doses de desmontagem existencial.
E como esquecer da série Touro, de 1945? Onze litografias que são, basicamente, um tutorial em capítulos sobre como desconstruir um touro. Começa realista, termina quase um rabisco, mas o espírito do animal? Esse permanece. Porque na arte moderna, menos é sempre mais, principalmente se o “menos” for tão minimalista que te faz questionar a sanidade ou genialidade do artista. Spoiler: com Picasso, geralmente é genialidade, mesmo quando parece loucura.
Pra fechar com chave de ouro (ou de parafuso), em 1958, Picasso montou outro touro. Dessa vez, com madeira compensada, galhos e ferragens. Se você pensou em uma obra-prima ou num projeto escolar de marcenaria, está no caminho certo. Essa escultura foi parar no MoMA em Nova York e, entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016, dividiu holofotes com outras 140 peças, provando que, no universo de Picasso, até o touro mais improvisado tem passaporte diplomático para os maiores museus do planeta.
Moral da história? Nunca subestime um touro. Principalmente se for de Picasso. Porque ali pode ter política, luto, bicicleta e até a receita secreta para enxergar o mundo de cabeça (de touro) erguida.
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