Um Imperador Sem Coroa: Trump, o Brasil e o Paradoxo da Democracia Made in USA

Esta imagem é meramente ilustrativa by InfoMoney

Há algo tragicômico,  e ao mesmo tempo perigoso, quando uma potência mundial age como se ainda vivesse nos tempos coloniais. O artigo publicado pelo Financial Times, chamando Donald Trump de “imperador do Brasil”, não é apenas uma metáfora mordaz. É uma síntese perfeita do absurdo político que se desenha entre os Estados Unidos e a América Latina quando o ego de um líder se sobrepõe à diplomacia e à lógica econômica.

A decisão de Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, supostamente como retaliação à investigação contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, é um espetáculo de incoerência. A justificativa política colide frontalmente com os valores democráticos que os EUA gostam de vender como patrimônio nacional, e que figuras como Marco Rubio, senador e defensor do “Estado de Direito”, dizem promover mundo afora.

Mas como já dizia o próprio artigo de Edward Luce: o mundo presta atenção ao que os Estados Unidos fazem, não ao que dizem. E o que estão fazendo é punir um país democrático, o Brasil, por permitir que sua Justiça funcione. É a velha diplomacia da chantagem disfarçada de defesa dos interesses nacionais. Washington, outrora símbolo de liberdade e justiça, vê-se hoje deslocada dessa narrativa, cedendo espaço a novas referências democráticas como Brasília e Ottawa.

O curioso, ou melhor, o cômico se não fosse trágico, é que a medida afeta diretamente setores que são base eleitoral de Bolsonaro, como os pecuaristas e exportadores de café. Trump, na tentativa de posar como aliado do ex-presidente brasileiro, acaba por minar justamente o território que Bolsonaro tenta preservar. É o imperialismo versão cega: quer proteger o aliado, mas ataca seu quintal.

E por trás desse teatro, emerge um Lula que cresce no palco internacional, com seu discurso firme: “Trump não foi eleito para ser imperador do mundo.” A fala reverbera como um tapa simbólico na cara de quem insiste em tratar o Brasil como colônia de luxo. Em vez de intimidado, o Brasil parece fortalecido por esse ataque, que soa mais como uma manobra eleitoral disfarçada de política externa.

O “Dia da Libertação” de Trump, como ele mesmo nomeou o pacote de tarifas, poderia facilmente ser rebatizado como o “Dia da Contradição”. Afinal, como punir economicamente um país com o qual os Estados Unidos têm superávit comercial DE QUASE 2 BI? Como defender a democracia punindo-a? Como parecer forte enquanto age como um imperador do século XIX, preso ao próprio narcisismo?

No fim, o tal imperador está nu. E o mundo vê.

Jackson Santos

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