Morre Francisco, o Papa que rezava com os pés no chão

 

Morreu o Papa Francisco. Sim, aquele que dispensava carrões blindados para andar de ônibus e que, se pudesse, trocaria o trono dourado do Vaticano por um banquinho de madeira numa paróquia de esquina. Partiu aos 88 anos, idade em que muita gente já está se aposentando… ou se candidatando a senador vitalício. Mas ele não: seguiu até o último fôlego tentando reorganizar uma instituição que existe há mais de dois mil anos — uma missão, digamos, mais difícil do que entender a fatura do cartão de crédito.

Francisco era latino-americano, argentino, jesuíta e… humano. Talvez o mais humano dos papas modernos. Falava com os olhos. Abraçava os marginalizados como se dissesse: “Deus também anda por aqui, viu?”. Em vez de dogmas, distribuía empatia. Trocava sermões rebuscados por frases simples, mas com a precisão de quem conhece o terreno e sabe onde cada palavra vai cair.

Claro que teve quem torceu o nariz. Afinal, um papa que fala de pobreza enquanto vive em um palácio causa mais impacto do que o último plot twist de novela das nove. Mas Francisco, que escolheu esse nome inspirado em São Francisco de Assis, era coerente até nisso: tentou reformar a Igreja de dentro para fora. Com delicadeza e, às vezes, com a paciência de um padre ouvindo confissão de fofoqueira de bairro.

Durante seus últimos anos, a saúde dele virou pauta quase semanal no noticiário. Pneumonia, cólon operado, joelho gritando. Era como se o corpo dissesse: “Chega, Jorge!” — mas o espírito respondia: “Ainda não”. Foi só quando todos os boletos do sofrimento foram pagos, que Deus, em sua infinita misericórdia, mandou um aviso sem eufemismos: “Agora sim, vem descansar.”

E lá se foi ele, no silêncio das 7h35 da manhã, enquanto muitos tomavam café, brigavam no trânsito ou decidiam se iriam ou não trabalhar. Foi embora como viveu: discreto, porém marcante. Nada de relíquias espalhafatosas ou caixão cravejado de ouro. Imagino que, se dependesse dele, a lápide diria apenas: “Jorge, servo de todos.”

Francisco mostrou que a fé pode caminhar descalça, que o amor cabe num olhar e que a Igreja, mesmo antiga, ainda pode aprender a se despir de suas vaidades. Num mundo onde líderes gostam de ser adorados, ele escolheu ser ouvido — e mais ainda, compreendido.

A ironia? Foi o papa mais humilde da era moderna… e o mais vigiado. Porque humildade sempre assusta quando é real.

Francisco foi um sopro de ar fresco numa sacristia trancada. Um profeta urbano, que trocava pergaminhos por bilhetes de metrô. A Igreja perdeu um reformador. O mundo, uma consciência. E nós, uma espécie de avô que não tinha medo de dizer “não sei” quando não sabia. Tomara que o próximo não queira ser maior, mas sim tão humano quanto.
Crônica por Jackson Santos

 

Autor de “Meus Contos Lúdicos” e “Aparências 2”

 

Jackson Santos

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