Toda vez que um avião decola em segurança, há uma cadeia silenciosa de responsabilidades em terra que ninguém aplaude. Da torre ao chão, do solo à sala de aula. E é nesse último ponto que a CCR Aeroportos resolveu pousar, literalmente, com suas ideias e palestras.
A ação aconteceu em Goiânia, mas poderia muito bem ser em qualquer canto do Brasil onde a pipa ainda reina soberana nos céus — como se o espaço aéreo fosse uma grande área de lazer sem rodízio nem radar. Cerca de 500 estudantes do Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, participaram da conversa. E mais tarde, os pequenos da Educação Infantil e dos primeiros anos também embarcariam nessa viagem educativa — sem precisar passar pelo raio-x.
A ideia era simples: explicar que soltar pipa perto de aeroporto é, no mínimo, uma colisão entre o lazer e a responsabilidade. E que, por mais colorida que seja a linha chilena, ela não combina com turbinas de avião. Parece óbvio? Sim. Mas entre o “parece” e o “entende” há sempre uma cartilha, um quebra-cabeça e, claro, um técnico com paciência de Jó.
Aliás, um momento de reflexão para os profissionais de segurança operacional, esses heróis anônimos que lidam com pipas, pássaros, drones e até laser apontado por aquele gênio da janela do 12º andar. Em 2024, já foram mais de 20 pipas encontradas dentro do aeroporto. Sim, você leu certo: dentro. Elas não querem apenas voar, querem fazer check-in.
Priscila Siqueira, coordenadora de Safety e Avifauna da CCR Aeroportos, lembra que até os animais domésticos representam perigo para a operação. O que me faz imaginar um poodle nervoso atravessando a pista como se fosse desfile da São Silvestre.
Mas voltemos à escola. Teve estudante que saiu dizendo: “Aprendi que drones podem ser sugados pelo motor”. Imagino o pai, à noite, testando o drone comprado em 12 vezes, recebendo esse alerta na janta. “Pai, desliga isso antes que a gente apareça no Jornal Nacional”. Educação, meus caros, é também um tipo de controle de tráfego.
A iniciativa é louvável. Ensinar segurança aérea na infância é como plantar uma árvore que não cresce torta. Crianças informadas voam mais alto — e sem interferir no radar. Porque segurança de voo começa no chão, na consciência, e, às vezes, no pátio da escola.
Enquanto houver pipa cortando o céu sem saber o perigo que representa, haverá necessidade de ações como essa. Que bom que alguém teve o bom senso de lembrar que educação ainda é o melhor plano de voo. Só torço para que a próxima campanha inclua os adultos também — especialmente os que acham que “é só uma brincadeira de criança” até o dia em que o voo atrasa por “motivo técnico não previsto”: uma rabiola enrolada no radar.
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