Formigas: o toque cítrico da alta gastronomia

Certa vez, você pisou em uma trilha de formigas e sentiu-se um gigante vingador, defendendo a honra do seu sanduíche. Mal sabia que, ao esmagar aquelas operárias diligentes, você estava desperdiçando uma iguaria digna de estrela Michelin. Pois é. Elas não estavam atrás das suas migalhas. Estavam fazendo estágio para virar prato principal.

Na Ásia, especialmente as pupas e larvas da formiga-tecelã, são disputadas como trufas. Na América do Sul, são ingredientes de receitas tão refinadas que até o sal grosso fica envergonhado. Alguns dos melhores chefs do continente,  esses artistas de jaleco branco e pinça na mão, usam as formigas como se fossem pequenas pérolas da terra. Com um leve sabor cítrico e cítrico,  sim, duas vezes, porque parece que os bichinhos levam isso a sério,  elas são a nova acidez do prato sem precisar de limão. O vinagre, coitado, foi aposentado por insetos.

O que impressiona é como a formiga, essa criatura de reputação humilde e força descomunal, atravessou a fronteira entre praga e prato. Um inseto que outrora azucrinava piqueniques e festas infantis agora ilustra cardápios que só se entra com reserva feita duas semanas antes e roupas sem estampa. E você aí, ainda chamando a abelha de rainha da biodiversidade. A formiga trabalha mais, carrega peso e ainda é gourmet.

Mas calma. Não se desespere. Ninguém está sugerindo que você saia agora mesmo colhendo formigas do quintal para fazer uma saladinha exótica. A não ser que o quintal seja na Tailândia e você tenha um chef escondido na churrasqueira. Porém, pense nisso: enquanto muitos reclamam do preço da proteína no supermercado, a solução pode estar marchando disciplinadamente pela calçada. Rica em proteínas, com sabor único e ainda por cima cheia de história. É quase uma refeição com aula de biologia embutida.

Claro, nem todo paladar está pronto para uma explosão cítrica de seis patas. Muitos ainda se agarram ao bife com gosto de nada e cheiro de culpa ambiental. Tudo bem. A transição para o futuro exige coragem. E um pouco de bom humor. Porque, convenhamos, não é todo dia que alguém te convida para jantar formigas com redução de maracujá e espuma de gengibre.

Então, da próxima vez que vir uma formiguinha andando na parede, resista ao impulso de eliminá-la. Pode ser uma futura estrela do prato, a alma da sobremesa ou até mesmo o limão que faltava na sua vida. Afinal, quem precisa de cítrico, quando se pode ter cítrico e cítrico?

Jackson Santos

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *