A Síndrome do Cargo Fictício
Crônica por Jackson Santos
Existe uma epidemia silenciosa nos escritórios do Brasil. Não, não é burnout (embora ele esteja ali na recepção, esperando ser chamado). Falo de algo mais glamouroso, mais… corporativo: a Síndrome do Cargo Fictício. Essa condição atinge profissionais que acordam como analistas plenos e dormem como “Coordenadores de Inovação Estratégica Transversal”. Sim, o crachá engorda — mas só ele.
A doença começa de forma sutil. Um elogio no feedback: “Você tem perfil de liderança”. Depois, vem um convite para assinar e-mails como “Líder de Projetos”. Quando a vítima percebe, já está participando de reuniões com seis siglas no nome, mas sem autonomia nem pra escolher entre Coca ou Guaraná na confraternização do setor.
Os sintomas são claros: você se sente importante, mas seu salário ainda é parcelado no iFood. Tem título bonito no LinkedIn, mas precisa pedir autorização pra aprovar um mousepad. Dá boas-vindas no onboarding, mas nem sabe quem foi demitido ontem. Enfim, você é um figurante de luxo numa peça onde só os “Diretores de Verdade” têm fala.
Empresas adoram esse truque: criam cargos pomposos pra reter talentos, como quem dá uma fantasia de super-herói pra uma criança e diz: “Vai lá, salva o mundo!” Só não contam que o mundo, no caso, é um Excel travando.
Temos Heads que não lideram nem a si mesmos, gerentes que não gerenciam nem o tempo do almoço e supervisores que supervisionam… o próprio desânimo.
Mas calma, tem um lado bom. Esses títulos rendem curtidas nas redes sociais, impulsionam egos e garantem boas conversas no happy hour: “Sou Coordenador Executivo Sênior de Processos Disruptivos” — diz ele, enquanto divide a batata frita em três vezes no cartão.
No fim das contas, a pergunta que fica é: estamos formando líderes ou montando um elenco de novela? Porque se for pra fingir mesmo, que venham os figurinos, o roteiro e o tapete vermelho.
E você, caro leitor, já atualizou seu LinkedIn hoje? Vai que te promovem pra “Diretor de Expectativas Não Atendidas”.
Curiosamente, apesar da leitura não ser sua atividade de lazer preferida, Jackson encontra grande prazer na escrita desde a adolescência, onde explorava diferentes formas de expressão literária e musical. Além de escritor, é compositor e foi cantor da banda de rock "Legendários da Nação", experiência que influenciou sua paixão pela música e criatividade artística.
Jackson acredita que "Somente você pode aprofundar em sua própria história. Às vezes, um livro pode ajudar. Mas o caminho principal, não pode ser substituído por nada."
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