Cupins: o banquete que veio do rodapé

Quando você ouvir um estalo na parede, antes de chamar o dedetizador, respire fundo e pense: e se for o jantar batendo à porta? Pois é, os cupins, esses pequenos arquitetos da destruição de móveis antigos, ganharam nova fama longe do seu guarda-roupa, estão virando iguaria em várias partes do mundo. E não, não é pegadinha de programa de culinária exótica. É ciência, é nutrição, é futuro.

Na África, por exemplo, eles não são praga. São proteína. São tradição. São o equivalente local àquele filé alto que você sonha em parcelar em doze vezes no cartão. Fritos, defumados ou secos ao sol, os cupins aparecem em receitas que fariam um chef francês coçar a cabeça e talvez até rever sua carreira. Afinal, enquanto uns empilham espuma de beterraba com aroma de poejo, outros se deleitam com um punhado de insetos crocantes com mais cálcio que muito leite por aí.

Você pode rir agora, claro. Fazer aquela cara de nojinho, aquela careta clássica de quem nunca saiu do eixo arroz-feijão. Mas pense comigo: você já viu alguém fazer fila pra comer ração de proteína disfarçada de barrinha? Já. Já viu gente pagar caro por pó verde que mistura spirulina com gosto de grama? Também. Agora me diga: por que o cupim, humilde, nutritivo e crocante, não pode ser a estrela da sua marmita?

A verdade, caro leitor, é que os cupins estão mais preparados para o futuro do que muita gente por aí. Enquanto o planeta se aquece, os bois engordam e os peixes somem, os cupins seguem firmes, discretos, organizados e cheios de proteínas. Eles não reclamam, não fazem greve, não exigem sombra. Apenas constroem seus túneis e esperam pacientemente o momento de virar petisco.

Claro, há um detalhe incômodo: eles comem madeira. E se você mora em casa com mobília de herança, talvez isso seja um problema. Mas veja pelo lado bom. Em tempos de reaproveitamento e economia circular, nada mais sustentável do que transformar o destruidor em sustento. O móvel que foi, vira refeição. Um ciclo poético, você não acha?

Então da próxima vez que você ouvir estalos suspeitos no rodapé, não corra. Abra uma cerveja, ligue a frigideira e prepare-se. O jantar talvez esteja vindo das entranhas da parede, com ferro, cálcio e um leve aroma de madeira de demolição.

Jackson Santos

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