Cachorros de Smoking e Gatos com Agenda

Foto de Ömürden Cengiz na Unsplash

 

A cena clássica: um cachorro vestindo uma gravata-borboleta, posando para o Instagram, enquanto um gato aguarda pacientemente sua “consulta” no veterinário com mais itens na agenda que um CEO. Se você nunca presenciou isso, provavelmente viveu sob uma pedra ou, ironicamente, longe de qualquer rede social. Pois é, estamos humanizando nossos bichinhos de estimação. E não, não estou falando de dar um nome carinhoso ou aquele tapinha na cabeça. Estamos falando de uma conversão quase completa. Os pets deixaram de ser animais e, em muitos casos, assumiram o papel de “filhos peludos”.

Antropomorfização: a palavra que ninguém consegue dizer rápido

Psicólogos chamam isso de antropomorfização, que, em bom português, significa “atribuir características humanas a algo que claramente não é humano”. Mas você já sabia disso, não é? Afinal, seu cachorro não “fica bravo” porque você atrasou o jantar. Ele simplesmente quer comer. E aquele olhar suplicante? Talvez seja só fome, amigo.

Mas, claro, isso não nos impede de agir como se nossos bichinhos fossem humanos. Porque quem resiste à tentação de comemorar o aniversário do Rex com bolo, chapéu e uma foto em grupo que leva mais tempo para ser tirada do que qualquer reunião de família?

“Pessoas de outra espécie”?

Vamos combinar: ninguém olha para o gato no sofá e pensa, “Ah, um felino selvagem adaptado ao ambiente urbano.” Não, a narrativa é outra. “Olha só o meu bebê! Ele até sabe usar a almofada certa para dormir.” Essa necessidade de vê-los como “pessoas de outra espécie” tem até seu lado doce. Afinal, ao tratá-los como humanos, criamos vínculos emocionais mais profundos e reforçamos nossa capacidade de empatia.

Mas, claro, há sempre um “mas”.

Os pets estão prontos para isso?

Pense comigo: será que um cachorro realmente precisa de uma fantasia de Batman? Ou será que o gato, que já não tem paciência para sua existência, quer ser arrastado para uma sessão de fotos de Natal? Spoiler: provavelmente não.

A humanização excessiva pode gerar estresse, desconforto e, em alguns casos, prejudicar a saúde do animal. Cachorros que só comem “comida de humano” e acabam com obesidade. Gatos que perdem o instinto natural porque passam mais tempo no TikTok (ok, essa parte é exagero) do que caçando brinquedos.

Os limites do “pai de pet”

Vamos falar sério: ser “pai de pet” é uma responsabilidade enorme, mas há limites. Não dá para colocar todas as expectativas emocionais em um animal que, bem, nunca pediu para ser “humanizado”. Eles não precisam de um iPad, de um guarda-roupa ou de um plano de saúde que custa mais caro que o seu. Eles precisam de amor, cuidados básicos, e talvez uma bolinha para perseguir.

E, convenhamos, a piada de chamar o cachorro de “meu filho” pode ser fofa no começo. Mas quando você começa a perguntar se ele prefere suéter azul ou vermelho, é hora de repensar algumas coisas.

Entre o sarcasmo e a realidade

Humanizar pets é uma mistura de amor e ego. Queremos que eles se pareçam mais conosco porque, no fundo, isso valida nossas emoções. Mas, se eles pudessem falar, será que agradeceriam ou apenas pediriam para deixá-los em paz com um osso e um canto confortável?

Então, da próxima vez que você pensar em comprar um carrinho de bebê para o seu bulldog, respire fundo. Pergunte a si mesmo: “Estou fazendo isso por ele ou por mim?” Porque, sejamos sinceros, às vezes o “bebê” só quer ser cachorro. E isso já é mais do que suficiente.

Jackson Santos

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