Ei, Siri, Quanto Vale Minha Privacidade?

 

 

E lá vamos nós outra vez: a Apple, aquela gigante da tecnologia que faz seus gadgets parecerem o Santo Graal da modernidade, concordou em pagar a quantia “módica” de US$ 95 milhões para resolver um pequeno mal-entendido sobre privacidade. Sim, porque, aparentemente, sua assistente de voz, a Siri, decidiu ser mais sociável do que gostaríamos. Afinal, quem não quer que suas conversas sobre tênis ou jantares no Olive Garden virem propaganda no Instagram? É o futuro, minha gente!

Imagine a cena: você no consultório médico, discutindo algo tão pessoal quanto um procedimento cirúrgico. Mal acaba a consulta, e, bingo! Você já tem meia dúzia de anúncios de clínicas especializadas no feed do seu celular. Coincidência? Claro que não! A Siri está trabalhando incansavelmente para te ajudar. Não agradeça agora.

E o melhor? Depois de milhões de dispositivos grampeados — ops, ativados — os usuários lesados podem receber até US$ 20 por dispositivo. Que bela fortuna! Com isso, você quase pode comprar… nada na Apple Store. Mas, ei, não é sobre o dinheiro, é sobre o princípio! A privacidade invadida vale muito, mas não tanto assim.

A Apple, naturalmente, nega tudo. Porque, no mundo corporativo, nada diz “não fiz nada errado” como concordar em pagar milhões para que todo mundo esqueça que você, talvez, tenha feito algo errado. É o tipo de lógica impecável que nos faz confiar em empresas gigantescas.

E os advogados? Ah, esses sempre saem ganhando. Enquanto você se contenta com seus suados US$ 20, eles levam US$ 28,5 milhões em honorários. Afinal, lutar pela sua privacidade não é barato, e alguém tem que pagar o novo iPhone deles.

E a Apple? Bem, os tais US$ 95 milhões equivalem a aproximadamente nove horas de lucro. Isso mesmo. Enquanto você passa o dia trabalhando, a Apple resolve seus problemas legais antes do almoço. De repente, você percebe quem realmente está ganhando nesse jogo.

No fim das contas, Siri continua ouvindo, Google está no banco de réus, e nós seguimos falando com assistentes de voz enquanto sonhamos com privacidade. Ironia? Talvez. Sarcasmo? Com certeza. Mas pelo menos sabemos que, se dissermos “Ei, Siri, como eu compro um advogado?”, ela estará pronta para ajudar. Ou gravar.

Essa situação é um reflexo curioso de como a tecnologia evolui mais rápido que as regulamentações ou nossa percepção de privacidade. Enquanto nos maravilhamos com as funcionalidades das assistentes de voz, negligenciamos o fato de que elas podem estar mais interessadas em nossa vida do que nossos próprios amigos. Talvez seja hora de repensar o que significa privacidade em um mundo tão conectado — ou, pelo menos, cobrar mais de US$ 20 por ela.

Jackson Santos

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