A Democracia que Cobra: Justifique-se ou Multa-se

Era uma vez, num país onde o voto é obrigatório, mas o transporte público decente não. Num canto do calendário, perdido entre feriados e jogos de futebol, vinha o prazo implacável: justificar a ausência nas eleições. Sim, porque faltar é um pecado capital, e a Justiça Eleitoral está aí para lembrá-lo de que democracia se faz com CPF, nome completo e um e-mail válido.

Imagine a cena: o cidadão que passou o segundo turno preso no trânsito ou no plantão do hospital agora precisa justificar sua ausência com a mesma seriedade de quem apresenta um TCC. Quatro opções, senhoras e senhores! Não diga que não há liberdade! Desde o futurista aplicativo e-Título até o nostálgico formulário presencial, nossa Justiça Eleitoral não mede esforços para garantir que sua desculpa chegue aos olhos atentos de um juiz.

E qual é a punição para os rebeldes, aqueles que ousaram não ir às urnas e ainda se esqueceram de justificar? Não, não é cadeia. É algo mais cruel: não poderão emitir RG ou passaporte. Como ousam querer existir oficialmente sem antes pagar seus R$ 3,51 por turno ausente? Que afronta à democracia!

Ah, mas há quem diga: “Estava no exterior, não pude votar.” Que privilégio! Mas nem os turistas escapam. Têm 60 dias para justificar ou 30 para os mais apressadinhos que voltaram ao Brasil. Afinal, quem disse que não dá para controlar o tempo em democracia?

O e-Título, com seu nome de aplicativo de fintech, é o protagonista da saga. Baixe, preencha, responda, valide. E não se esqueça de anexar o motivo de sua ausência, algo entre “não estava no país” e “meu cachorro comeu meu título.” Porque, ao que parece, até a ausência precisa ser bem explicada no Brasil.

Ironias à parte, não seria mais simples – ouso propor – incentivar a participação com campanhas que expliquem a importância do voto, ou até mesmo a implementação de votos online seguros? Não, claro que não. É mais eficiente cobrar e cancelar sua inscrição depois de três eleições consecutivas.

E assim segue a vida, entre justificativas, multas e aplicativos. Porque, no fim das contas, quem disse que votar era sobre cidadania? No Brasil, parece mais um jogo de tabuleiro: avance três casas, justifique sua ausência, ou volte ao início e perca seu RG.

Ah, a democracia à brasileira! É obrigatória, é burocrática e, acima de tudo, sabe como cobrar seus centavos. Afinal, quem precisa de liberdade quando temos um aplicativo para justificar nossa ausência?

Jackson Santos

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