Era uma vez a liberdade de expressão, aquela amiga que a gente sempre defende nas rodinhas de conversa, mas que às vezes aparece com um chapéu esquisito e começa a gritar coisas que ninguém pediu. E foi pensando nisso, ou talvez em aumentar o engajamento, que a Meta decidiu trocar seu programa de checagem de fatos pelas famosas “Notas da Comunidade”. Nada mais democrático do que confiar na sabedoria coletiva, certo? Afinal, quem precisa de especialistas quando se tem aquela tia do zap ou o primo que entende de tudo?
Mark Zuckerberg, com seu semblante de visão futurista e talvez um toque de exaustão (quem sabe de tanto lidar com Elon Musk), anunciou a mudança com entusiasmo. “É hora de voltar às raízes da liberdade de expressão”, disse ele, quase como se estivesse libertando um pássaro de uma gaiola dourada. O detalhe é que esse pássaro pode muito bem ser um pombo desgovernado com fake news no bico.
O argumento parece até plausível: “Os especialistas têm suas inclinações”. E claro, ninguém é imparcial, mas será que a solução para evitar inclinações não é substituir especialistas por um grupo de usuários aleatórios? Imaginemos o cenário: você posta algo sobre as mudanças climáticas, e a comunidade decide que precisa de “mais contexto”. Três comentários depois, alguém menciona reptilianos, e pronto, temos uma conversa vibrante e completamente fora da realidade.
A ironia não para por aí. A Meta promete que, com as Notas da Comunidade, os usuários terão acesso direto às informações adicionais, sem os incômodos “avisos em tela cheia”. Afinal, por que se preocupar em explicar que um post é enganoso, quando podemos simplesmente deixá-lo lá, com uma observação tímida que poucos vão ler?
Minha opinião? É como trocar o filtro de água por um balde de coleta de chuva: pode funcionar, mas a probabilidade de algo contaminado aparecer é alta. Liberdade de expressão não é sinônimo de ausência de responsabilidade, e colocar o controle nas mãos da comunidade é um experimento ousado, mas arriscado. Estamos terceirizando a verdade para um júri que nem sempre quer ou sabe julgá-la.
Então, boa sorte, Meta. Que suas “raízes” não nos deixem com os pés atolados na lama da desinformação. E se tudo der errado, pelo menos teremos boas histórias para rir e talvez chorar enquanto a internet se transforma, mais uma vez, em um gigantesco Achados e Perdidos de credibilidade.
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